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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A dor de crescer


Em criança,  tive muitos animais de estimação.
Tinha imenso espaço que me possibilitava ter imensa bicharada.
Desde criança, que o meu sonho era albergar todos os animais abandonados que encontrava, pois parte-se-me o coração de ver os bichos abandonados.
Por isso, procurei sempre tratar bem os animais que tive e tenho.
Tenho várias histórias que me marcaram, mas há uma que nunca esqueci pelo que me marcou.

Sempre tive preferência pelos gatos.
Talvez pela sua indepêndencia, o seu ar misterioso e fascinante.
Ainda hoje, os gatos são uma paixão.
No entanto, reconheço que nos cães, encontro muito mais amor incondicional e entrega.
De todos os que tive, recordo-me de uma cadelinha que era uma ternura.
Sempre do meu lado, acompanhava-me a todo o lado.
Era minha companheira, minha cola, minha sombra.
Mas por vezes, chateava-me.
Ela queria lamber-me, saltava para cima de mim, desafiava-me a brincar.
Eu às vezes zangava-me com ela, enxotava-a e ela lá ia embora, com a cauda entre as pernas, triste pela rejeição.
No entanto, bastava eu voltar a chamá-la, que de imediato ela saltava para o meu colo, feliz e sem qualquer amuo.
Um dia, enquanto eu brincava, ela estava de roda de mim, como sempre.
Ora me lambia, ora saltava para cima de mim, enquanto eu tentava brincar.
Às tantas, dou-lhe um berro e mando-a embora.
E ela foi, tristinha da vida.
Continuei a brincar sem pensar mais nela.
Ao final de umas horas estranhei a ausência dela.
Fui  à sua procura mas não a encontrava em lugar nenhum.
Então, tocaram ao portão da casa e uma vizinha veio perguntar se por acaso a cadela que tinha sido atropelada seria a nossa.
Eu nunca mais me esqueço da dor que tive.
Dor porque ela tinha morrido.
Dor porque nunca mais voltaria a vê-la,  mas muito mais que isso, aprendi o que era sentir dor, por o último momento com ela, ter sido eu a rejeitá-la. Por não ter aproveitado mais o tempo com ela.
A dor de sentir isso, fez-me crescer mais naquele dia.
A falta que eu sentia dela, da sua alegria, do seu amor incondicional, foi imensa.
Daria tudo para a voltar a ter ali do meu lado, dando-me os seus beijos à cão, brincando comigo.
Voltei a ter muitos mais cães, mas nunca me esqueci dela e da lição que aprendi.
Crescer custa e a vida tem muitas lições.
E os animais deram-me muitas.
Esta foi uma delas.

5 comentários:

De dentro pra fora disse...

É verdade ..crescer custa! porque será que crescemos sempre mais rápido com as dores?Será por ainda não sabermos dar o devido valor ás pequenas alegrias do dia-a-dia..

Vilma disse...

É verdade. Por vezes tomamos as nossas coisas do dia a dia, simples e mesmo pessoas, como algo certo, e só quando sofremos uma perda, que damos valor.
C.S. Lewis é que dizia que "o sofrimento é o megafone de Deus".
Talvez por isso que crescer doa. :)

Leonor C.. disse...

A vida dá-nos muitas lições e de muitas formas. Na realidade os animais são um exemplo de humildade, dedicação e amor. Eles lambem a mão que os repele, voltando ao mais pequeno chamamento. Tenho uma cadela e quantas vezes dou por mim a olhá-la nos olhos, porque eles me transmitem tanta coisa. Também tenho preferência pelos gatos mas ambos são adoráveis!
Beijinhos!

carmen disse...

Que história triste... é difícil aceitar uma morte assim, mas o que deve ficar é o amor que fluia entre vocês... E o que ficou desta lição difícil...
Tenho várias histórias de animais que tive lá no meu site:
www.cronicasaoentardecer.com.br

Tem uma que estou terminando que já me fez chorar muitas vezes...
Bjs de carinho

Marlene Maravilha disse...

Custa crescer sim, mas vale a pena, porque podemos aproveitar o amadurecimento para posts deste tipo, que edificam a nossa existencia. Experiencias sao uma riqueza de valores.
beijos amiga.

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