Já tenho partilhado aqui no blogue diversas coisas minhas sobre isso.
Muito jovem ainda, já tinha uma percepção forte sobre a vida e a morte.
Ao ponto de encetar uma busca por algo que me trouxesse respostas a esse meu sentir.
Também já partilhei que encontrei essa luz na pessoa de Jesus Cristo, que me tornou uma nova criatura em Deus, nascida de novo.
Terminei a leitura de um livro, de título "Éden" escrito pelo Flávio Siqueira.
Como não há em Portugal, ele teve a generosidade de o oferecer em E-Book, que me permitiu ler.
Já na parte final do livro, li algo que me tocou, porque me identifiquei com essa passagem.
Acho que o Flávio conseguiu passar bem em palavras, o que eu sempre senti e ainda experimento.
Partilho aqui, para quem quiser ler essa parte do livro.
"Imagine observar o nosso planeta a partir de algum ponto no
espaço. Lá não há sons, vento, vozes ou qualquer movimento
constante. É frio. Muito frio.
Cercado por estrelas e planetas, um chama a atenção:
É azul,
lindo, imenso,uma surpreendente jornada de um homem em direcção a Deus e a si mesmo.
Para quem observa a distância, pode parecer mais um entre
tantos mundos no meio de um dos multiversos que sequer imaginamos quantos são.
Olhando de longe não dá para saber que
naquele globo, bilhões de histórias estão se desenrolando, conectando e interferindo umas nas outras. É impossível discernir os
desdobramentos - no tempo e no espaço - de pequenos gestos
individuais.
Naquela distância não se enxerga cada serzinho, pequenos,
ocupando os seus espaços e se movimentando apressadamente para
todos os lados.
Eles não pensam que estão inseridos numa realidade absurdamente maior do que aquela que constantemente enxergam. Vêem
apenas o que está diante dos seus limitados olhos e é assim que costumam guiar os seus passos.
Observando de um ponto qualquer do espaço, sentindo-se
mergulhado no infinito, viajando entre galáxias sem fim, fica difícil
acreditar que dentro daquele planeta chamado Terra existem tantos mundos.
Dentro de cada homem e mulher há uma realidade única,
absolutamente pessoal. Um jeito próprio de se enxergar e a partir
disso interpretar a vida.
Há silêncio no espaço, mas é possível sentir a vibração que
sai daquele planeta. Não é algo físico, mas pulsa emanando um
tipo de energia que interfere mesmo na imensa distância.
Cada humano tem consciência de que está ali por algum tempo, de passagem.
Eles sabem que não viverão para sempre com aquele corpo. Sentem todos os dias que o seu tempo na forma que estão será
breve, mas parece que aprenderam a conviver com essa realidade.
Uns criaram explicações, outros desenvolveram métodos para
deixar de temer. Tem os que vivem alimentando a sensação de
que pertencem somente aquele tempo e aquele lugar, esperando o dia em que desaparecerão, deixando no máximo um rastro que
talvez dure uma ou duas gerações, mas depois se apagará.
Outros
caminham como se não pertencessem aquela Terra. Esses não
são diferentes em aparência. Tem os mesmos hábitos, convivem
com suas rotinas, andam de carro, transportes públicos, jantam fora, trabalham,
vão à faculdade, praticam desporto, lavam louça, levam o cão para passear, cantarolam no chuveiro, ficam gripados e lutam para
sobreviver com o salário.
Não causam nenhuma impressão para
quem os observa, a não ser por um detalhe: vivem como se estivessem em férias. Como se tivessem chegado de um lugar muito
distante, onde a vida fosse completamente diferente e sabem que
um dia voltarão para casa.
Neles há um eterno desconforto. Estão naquele lugar, mas
sabem que não pertencem a ele.
Lidam com a vida e seus acontecimentos com certa reverência, como se identificassem o sagrado onde ninguém vê.
Para
esses nada é sacro, mas tudo é sagrado: O chão, bichos, movimentos, o céu sobre a cabeça e o céu no coração. Olham para o
por do sol como quem ouve música, se deslumbram com a folha
levada pelo vento, com o tempo que muda, a criança que sorri.
Emocionam-se com o espectáculo da vida, a mulher que dá a luz,
o homem que é capaz de chorar, amar, perdoar, com as infinitas
possibilidades do amor.
Sentem-se como estrangeiros, porém profundamente apaixonados pelos que nasceram ali e, ainda que a duras penas, sobrevivem cheios de gratidão, divididos entre o agora e o daqui a pouco,
quando voltarão para casa e se aninharão no colo do pai.
Aliás, é isso o que os mantém fortes.
Sabem que o seu Pai está ali. Vêem a Sua mão no céu colorido,
nas nuvens que trazem a chuva e abençoam a todos. Na fotossíntese
silenciosa, nos passos do animal sobre a folha seca. Na madrugada,
enquanto todos dormem, ouvem o canto do Pai que se confunde
com o do grilo, com o bater das asas do pássaro nocturno, passos de uma surpreendente jornada de um homem em direcção a Deus e a si mesmo
alguém que caminha lá longe, sensações que ecoam constantemente
uma mensagem de amor, que não cessa, não cansa, não cala mesmo
quando nada parece bom.
Eles sabem que bem e mal são dois lados de uma coisa só e
que no fim, todos levam ao mesmo lugar. É como se expor a luz do
sol, sentindo o calor do dia cheio de gratidão, para depois, quando
a tempestade chegar, enfrentá-la com a serenidade de quem sabe
que o sol ou a chuva cumprem sua função e são necessários para
que exista vida.
Olhando a Terra de longe, sabe-se que ela é só um planeta
entre tantos, em uma galáxia entre muitas, flutuando em um vazio
infinito.
Ela existe e gira em mistério, abrigando seres que carregam
no coração a chama do Eterno, convivendo entre o permanente
conflito de saber que há fim, mas sentir que não há.
Morte e vida estão presentes nas suas escolhas mais simples e
dividem espaço em cada coração.
É por isso que, ainda que nem todos saibam, cada humano
cria o seu caminho a partir da maneira como lida com essas questões."
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