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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Definição de saudade

Não sei se o relato é verdadeiro ou não. Pouco importa. Sei que tenho de o partilhar. É reconfortante, restaura forças e confiança, devolve-nos esperança, enche-nos de amor. Chegou-me em mail, identificado como um artigo de um médico oncologista, de nome Rogério Brandão. Escreve assim:

Como médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de actuação profissional (...) posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vividos pelos meus pacientes. Não conhecemos a nossa verdadeira dimensão até que, apanhados pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei os meus primeiros passos como profissional... Comecei a frequentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria. Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes do cancro. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a acobardar-me ao ver o sofrimento das crianças.

Até ao dia em que um anjo passou por mim! O meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por dois longos anos de tratamentos diversos, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de químicos e radioterapias. Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar. Vi-o chorar muitas vezes; também vi o medo em seus olhos; porém, isso é humano!

Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem sentir uma profunda emoção.
— Tio, — disse-me ela — às vezes a minha mãe sai do quarto para chorar escondida nos corredores... Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Indaguei:— E o que é que a morte representa para você, minha querida?— Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama dos nossos pais e, no outro dia, acordamos na nossa própria cama, não é? (Lembrei-me das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos; com elas, eu procedia exactamente assim.)— É isso mesmo, respondi. — Um dia eu vou dormir e o meu Pai do Céu vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, e vou estar feliz também!
Fiquei "entupigaitado", não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade que o sofrimento acelerou e a visão e a espiritualidade daquela criança.— E, quando isso, acontecer, a minha mãe vai ficar com saudades — rematou ela.
Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:— E o que é que a saudade significa para você, minha querida?— Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais directa e simples para a palavra saudade: saudade é o amor que fica!

1 comentário:

Rosa Barros disse...

Que lindo!! Esta história é muito conhecida aqui no Brasil, circula à beça pela web mas é sempre bom reler!
Não há definição melhor: "Saudade é o amor que fica". Só a sabedoria vinda da inocência infantil poderia pronunciá-la. E quantos ensinamentos esses pequenos anjos nos dão...
Beijos!

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