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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Adoptar: um acto de nobreza?

Na sequência da blogagem colectiva sobre a adopção, senti no meu coração escrever algo sobre a adopção.
Tenho muitos textos bonitos  no meu blogue sobre o que tenho vivido e experimentado com a adopção, no entanto, em relação ao Desafio lançado pela Georgia sobre Adopção Um Acto de Nobreza, eu gostaria de dizer o seguinte:

Sou mãe adoptiva.
Desejei e esperei pela minha filha 4 anos e meio, desde que me inscrevi na adopção.
Amei-a antes de a conhecer, tal como uma mãe biológica ama e deseja o seu filho no ventre.
Passei pelas mesmas dúvidas e receios.
Adoptei-a como minha filha e nada neste mundo pode mudar isso.
Mas pergunto: Foi isso um acto de nobreza?
Não vejo nisso um acto nobre.
Não é um acto mais nobre adoptar um filho que concebê-lo!
Para ser um acto de nobreza, precisaria de ter ido muito mais além.
Adoptar como filho uma criança saudável, linda, meiga, fácil de ser amada e que vem satisfazer o desejo materno, não é nobre.
É apenas natural!
Nobre,  é adoptar uma criança portadora de deficiências físicas, sejam elas  motoras ou mentais.
Nobre,  é adoptar uma criança difícil de ser amada, porque a vida já a marcou muito e dentro dela estão todas a mágoas, revoltas e dores, frutos da rejeição a que foi sujeita.
Nobre, é adoptar uma criança, independentemente da sua raça, côr ou idade.
Nobre, é quando se tem um ou mais filhos biológicos e escolhe-se amar uma criança e fazê-la parte da família, ainda que não seja sua carne.
Nobre,  é optar por adoptar um filho, em vez de se submeter a tratamentos caros para satisfazer o nosso desejo de ver o ventre crescer.
Isso sim, é um acto de nobreza.
Sei que a lei não ajuda e nem facilita os processos de adopção.
Dizem que é para pensar nas crianças.
Mas não. 
Nenhuma criança deveria esperar tanto tempo para ter direito a um lar, a uma família que a ame.
Nem sempre o laço de sangue é a melhor opção.
O amor, esse sim, é o laço maior.
O meu gesto não foi um acto de nobreza.
Eu precisaria de ter ido mais além.
Além do meu comodismo, além das barreiras e dificuldades que coloco a mim mesma.
Aí eu consideraria que ter adoptado, seria um gesto de nobreza!
Aí sim, poderíamos ver descer o número de crianças por adoptar.
Isso é ser nobre.
Isso é ser audaz!

19 comentários:

De dentro pra fora disse...

Não concordo contigo,eu acho que adoptar é sempre um acto de nobreza, adoptar para mim é sinonimo de Amar, é assim que vejo a adopção.
O amor é o sentimento mais nobre que conheço, como tal acho que tudo está inter-ligado

Vilma disse...

Adoptar é um gesto de Amor.
Escolhe-se amar uma criança, mesmo sabendo que não é sua carne.
Tal como o desejo de ter um filho.
É por Amor.
Mas fazemo-lo também pelo desejo de sermos pais, algo que é natural.
Agora, para mim, para ser considerado um gesto de nobreza, teria que ultrapassar esses limites, tais como referi no post. É lindo adoptar uma criança, tal como é maravilhoso gerar.
Se me disseres que existem muitos casais que mesmo não podendo ter filhos biológicos, preferem não adoptar.. é verdade.
É uma opção deles.
Eles que perdem a benção disso.
O amor é mais que um sentimento: é uma escolha!
amar os que nos amam, que desejamos ou que são fáceis de serem amados, é fácil.
Nobre é ir mais além e amar os menos "amáveis".
Aí que eu quero diferenciar o gesto. :)
Um beijinho e obrigada pela tua opinião!

neli araujo disse...

Pois é, Vilma, concordo consigo, linda!

Como sabes, tenho dois filhos que não saíram do meu ventre, e não considero a adoção deles um ato de nobreza por minha parte.

Pelo contrário, eles é que
me fizeram um bem! Após 5 anos de
muito sofrimento na tentativa de ter um filho biológico, Deus me concedeu esta bênção de ser mãe do coração!

Só quem já quis MUITO ter um filho
pode entender este sentimento...
Na realidade, não fiz nenhum favor a eles;
Foram eles que fizeram muito bem a mim!
Me deixaram amá-los!(hoje têm 27 e 26 anos)

Beijo carinhoso,

Neli :)

Vilma disse...

Obrigada Neli pela tua partilha!
É sempre bom ler a opinião de quem passa por isso.
É como dizes, o bem no fundo, é nosso! :)
Não deixando de ser um acto de amor na mesma claro!
Mas de nobre, não encaro assim.
Um grande beijinho a ti também!
DTA

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Vilma, consegui chegar até aqui e ler o seu post com muito carinho e atencao. Eu entendo perfeitamente o seu ponto de vista. Mas quando pensamos neste tema da blogagem queríamos mesmo levar as pessoas a pensarem neste estado de sentimento.

Eu vejo a coisa de dois prismas diferentes.
Você tem toda a razao quando diz que adotar nao deveria ser visto como um ato de nobreza. Assim como ter um filho biológico nao é nenhum ato de nobreza.

Quem adota nao está fazendo favor algum prá ninguém como a maioria de nós pensamos; é verdade que o nosso primeiro sentimento é esse: Ah, vou ajudar uma dessas criancas e vou dar uma família para ela; entao sente-se nobre pela caridade que se pensa em fazer.
Mas depois com o amadurecimento essa palavra "nobre" que foi instalada no coracao, vai desaparecendo. A própria espera nos corredores vai levando a pessoa a se perguntar se é isso mesmo o que ela quer.

A espera para uma adocao deveria se dar em 9 meses. Tempo que uma mulher espera o filho na barriga. E tempo que todo casal tem para preparar a chegada do bebê. Mas em se tratando de adocao a coisa fica mais demorada até mesmo porque muita coisa precisa ser vista.

E ai, pode acontecer que em muitos casos a pessoa viu que o seu ato de nobreza era pouco e acabou e desistiu de continuar na fila;
outros, vao em frente; esperam, lutam e depois trazem o "troféu" para casa. Sim, "troféu", porque a espera é tao longa e os problemas levantados até a legalizacao, sao gigantescos, você mesma comeca seu post falando que esperou 4 anos e meio desde que se inscreveu para a adocao, que quando a pessoa consegue a autorizacao, o primeiro sentimento que ela tem é: "Venci", "Consegui". Estou levando o meu prêmio. Estou levando o meu merecido troféu, que é você meu filho.

Quem tem culpa deste tipo de sentimento?

Talvez o próprio sistema, Vilma. A espera é longa e sofrida demais.

Com o tempo e o convívio ambos vao aprender que nao se trata de levar o "troféu" para casa, mas que esse tempo de espera também valorizou o seu sentimento de "querer" e lutar pelo filho que vai receber. E aprendeu a amá-lo, mesmo sem conhecê-lo: E ai descobre que, o que lhe aconteceu foi um parto, um parto diferente dos outros, mas um parto e nao o recebimento de um troféu. Mae, pai e filho se integram e nao haverá em nenhuma das partes, nos coracoes, o sentimento de nobreza que a própria sociedade incute em nós. Mas o sentimento de que aquela crianca é seu filho e pronto.

Um grande abraco e muito obrigada pela participacao.

Vilma disse...

Georgia: Expressaste bem a ideia.
Muitas vezes a sociedade passa esse tipo de sentimento, quando o beneficio e escolha são nossas.
Seria muito bom no entanto, não existir tanto impedimento burocrático para que as crianças pudessem ter um lar familiar.
Muitos juizes defendem que as crianças devem estar com alguém do mesmo sangue e os processos alongam-se, tempo demais, espera demais para todos, mas em especial, para as crianças.
Elas sim, as grandes vitimas de tudo isto.
Os filhos, na verdade, não são troféus, tão pouco são nossos mesmo.
Eles são como dádivas, que estão nas nossas vidas, para os criar e fazer deles seres humanos com impacto neste mundo e na vida. Mas não nos pertencem mesmo.
Quando muito, será essa a nobreza que vejo.
Mas gostei da tua explicação e acima de tudo, iniciativa, pois a adopção tem muitas barreiras, sociais e humanas, que precisavam de ser deitadas abaixo.
Um abraço Georgia!
Vou acompanhando as outras publicações! :)

Lou H. Mello disse...

Não te falei que Deus tinha mais propósitos nisso tudo, para você? Basta alçar a voz e Ele será contigo.

Vilma disse...

Lou: O propósito principal, creio eu, tem sido o de aprender.
Se Ele entender usar alguém como eu, Ele também me dirigirá nesse propósito. :))
Um abraço amigo!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Minha querida, vim aqui ler a tua resposta. Mas tens toda a razao quando diz que os filhos sao Dádivas, e nós como filhos adotivos de Deus somos dádivas, como a própria Palavra nos diz.

Um grande beijo

alealb disse...

só sei de uma coisa:
a Toty é tudo de bom!!!!!!!!!!!
foi um presente de Deus!
e isso sim, é mais que nobre!!!
:)
:)
beijinhos!
alê

Vilma disse...

Alê: Sem dúvida, o maior gesto nobre, e esse sim, de Deus.
A Ele toda a nobreza por também nos adoptar como Seus filhos, sendo nós pouco dignos do Seu amor.
Mas porque Ele é Amor e nos amou primeiro, que somos continuamente alvo também da sua imensa bondade.
Um beijinho!

CrisR disse...

À uns tempos uma pessoa familiar muito próxima adoptou uma criança, e disse-me que o acto dela tinha sido muito mais nobre do que o meu de ter tifo um filho. Que as pessoas que adoptavam uma criança eram melhores pessoas do que as que concebiam um bebé.
Eu fiquei triste com aquela afirmação, porque eu estive grávida duas vezes, tendo numa delas perdido o bebé e na outra grandes dificuldades para a levar até ao fim.
E naquela afirmação o meu acto parecia banal, e futil. Como se eu tivesse sido melhor pessoa se em vez de engravidar tivesse adoptado uma criança.
Eu considero a adopção um gesto de amor, lindo !
E dou o meu louvor a quem o faz!

Vilma disse...

Cris: Foi uma infeliz observação!
Ninguém é melhor por adoptar uma criança!
Não me considero melhor que a mãe que gera um filho.
O que nos moveu foi o desejo de ser mãe, no fundo, um desejo até egoista, de prencher o vazio da maternidade.
Por isso que para mim, para ser um gesto nobre, terá que ir mais além.

Penso no que Jesus disse: "Tratem os outros como querem que os outros vos tratem. Pensam que merecem elogios só por amarem os que vos amam? Isso até os maus fazem!
E se fizerem bem somente aos que vo-lo fazem, também será isso coisa tão extraordinária? Até os pecadores procedem assim."
As palavras de Jesus muitas vezes são duras, mas são a verdade.
Não fazemos nenhum bem maior por adoptar uma criança que desejamos.
O difícil é adoptar as que são difíceis de serem amadas, que têm problemas, etc., etc.
O gesto de amor está implicito, sem dúvida, mas o benefício é nosso! :)
DTA e obrigada pelas tuas palavras.

Nina disse...

Mas o amor é nobre!

é nobre a sua causa, a do amor... faz da gente e do nosso mundo um lugar melhor pra se viver...

Vilma disse...

Nina: Sim concordo contigo!
O Amor, no seu mais amplo sentido, é sempre nobre!
:))

Jeane Ralile disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jeane Ralile disse...
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Jeane Ralile disse...

Como bem resumiu Vilma, amar é uma escolha! E somente no sentimento supremo do amor reside a nobreza.

Contudo, quando o assunto é adoção, a palavra nobreza soa como caridade, filantropismo, boa ação. E somente quem é mãe ou pai adotivo sabe que essa, decididamente, não é a motivação para a adoção.

Minha filha foi "gerada" por longos dez anos... dez anos vivenciando a dor da espera, em meio a muitas lágrimas e muito clamor. Quando finalmente a "pari" a alegria incontrolável me fez rir, orar e chorar, tudo ao mesmo tempo... nada diferente da mãe que vê pela primeira vez o filho do seu ventre!

E, de forma alguma, passa pela mente ou coração de uma mãe a idéia de "Ah, vou ajudar essa criança, vou dar uma família para ela".

Simplesmente repudio qualquer insinuação de que sou uma boa pessoa, que fiz um bem a humanidade pelo fato de ter "escolhido" ser mãe. Sim, escolhido, ao contráro de muitas mães que têm seus filhos não planejados pelo único receio de abortá-los e não por amor.

Há um "amigo" que certa vez elogiou a mim e a meu marido "por termos mudado o destino dessa menina, que se não fosse isso estaria jogada em algum canto, suja e faminta" eu respondi: "essa hipótese jamais existiu porque Deus já tinha traçado o destino daquela criança antes mesmo dela ser concebida e que a nossa motivação para adotá-la foi a absurda e absoluta necessidade de experimentar o amor mais lindo, puro e incondicional que existe aqui na terra".

A ternura, alegria, encanto, amor e beleza, que Amanda trouxe às nossas vidas faz de nós infinitamente os mais beneficiados com a sua chegada.

Sofro hoje a dor de descobrir que minha filha, meu bebê lindo, nasceu com dificuldades motoras. Mas mesmo isso, não torna a minha escolha de amá-la mais nobre. Pelo contrário: mais uma vez o maior benefício é para mim já que essa condição dela tem feito de mim alguém melhor, tem me tornado mais e mais dependente de Deus, buscando N'Ele a força para lutar e a provisão necessária para que, dia após dia, a caminhada pela reabilitação dela seja cheia de vitórias.

A Deus toda honra, toda glória, todo louvor.

Jeane Ralile disse...

Vilma: há um artigo, postado no nosso blog, que retrata bem os nossos sentimentos com relação a nossa filha do coração, do espírito e da alma.

Pegando o gancho de uma irmã em Cristo (hoje missionária na África) que certa vez me confidenciou como a adoção a emocionava haja visto que Deus também nos escolheu e nos fez seus filhos por adoção mediante o sangue de Cristo, meu marido escreveu um texto intitulado "Nascidos no coração do Pai", no qual ele correlaciona o amor de Deus por nós com o nosso amor pela pequena Amanda.

o link é http://alexmaltta.blogspot.com/2009/09/nascidos-no-coracao-do-pai.html

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